Não se trata apenas da Creche-UFBA, mas do tipo de universidade que está sendo projetada para os próximos anos.

Fiquei em dúvida se escrevia essa carta, assim como ainda estou em dúvida se devo ou não divulgá-la. Porém, preciso partilhar a angustia que sinto em relação à Creche da UFBA, pois desconfio que a postura dos candidatos em relação à isso pode revelar o projeto que cada um tem para o futuro da Universidade.

Fui estudante da pós-graduação na FACED/UFBA, período em que nasceu meu filho. Divido com meu companheiro – também estudante e recém-professor da UFBA – os cuidados com nosso pequeno, que esse mês fará 4 anos de idade. Acredito na educação pública, motivo pelo qual me empenhei em mantê-lo na creche UFBA e atualmente, procuro alguma escola municipal que o receba (isso não está fácil pois a Educação Infantil em Salvador ainda está carente de políticas mais efetivas para ampliação das vagas). Manter um filho na creche UFBA foi uma oportunidade única e maravilhosa, mas esteve longe de ser um processo suave. Apesar da qualidade pedagógica, do cuidado responsável, do zelo e da afeição que a creche direciona a nossas crianças, uma mãe ou pai mais mais atentos conseguem perceber que aquele espaço tem sido deixado de lado nos últimos anos. Ao que parece, a creche não esteve na agenda da atual Reitoria. Não me venham falar das reformas ou dos pregões de fraldas e comida (obviamente, o mínimo necessário é atender a essas demandas fisiológicas e a integridade das crianças). Eu quero que falem sobre reconhecimento e autonomia.

Quero que falem do reconhecimento da creche como espaço de ensino pesquisa e extensão – tal como enfatizado pela resolução Resolução CNE/CEB nº 01 de 10 de março de 2011, que o então Pró-Reitor da PROAE não encaminhou, apesar do prazo de quase 2 anos para que isso fosse feito e apesar das solicitações de professoras da creche e da própria presidente da ANUUFEI (Associação das Unidades Universitárias Federais de Educação Infantil)

Quero que falem do reconhecimento da creche como direito das mães e pais, especialmente para aqueles que, como eu, não tem família próxima para dividir os cuidados com a criança, para aqueles que não podem pagar por uma creche privada, visto que a oferta de vagas na rede municipal Salvador não atende a demanda social. Percebam: quero que falem do DIREITO e não do favor, não da assistência, pois essa visão da Educação Infantil, já está por demais superada!

Falo, mais enfaticamente, do reconhecimento da creche como um direito da criança, conforme previsto na nossa legislação. Alguns podem dizer: mas a Educação Infantil é responsabilidade do município e não compete à União diretamente. Ouvi pessoas afirmando que a creche deve ser municipalizada. Porém, saibam que a possibilidade de manter creches PÚBLICAS vinculadas à Universidades foi resultado de lutas de professores universitários, através da ANUFEEI. Mas a ÚNICA creche universitária que não foi regularizada junto ao MEC foi a creche UFBA. Então, gostaria que me explicassem: por que todas as outras universidades conseguiram fazer, e a UFBA não? Por favor, não podemos aceitar que foi a burocracia (a UFAL, por exemplo, assumiu a regularização Ad-Referendum). Penso que regularizar a creche UFBA era uma decisão política da Reitoria que consistia em dialogar com os envolvidos e reconhecer a CRECHE em sua importância e autonomia.

E por falar em autonomia, é exatamente isso que a Creche perde. A regularização a vincularia a uma unidade acadêmica da UFBA, permitindo a percepção de verbas próprias, a realização de concursos públicos para professores e servidores. Possibilitaria a ampliação das vagas, não sendo mais exclusiva para filhos de estudantes desasistidos, servidores e professores, mas teria o dever de acolher os filhos desses e da comunidade envolvente. Seria sim um espaço realmente público, socialmente referenciado e um espaço privilegiado de ensino, pesquisa e extensão, afinal, continuaria sendo A CRECHE UFBA. E sendo A creche UFBA regularizada e fortalecida, poderia firmar parcerias com o município de Salvador e com outros, contribuindo ainda mais para a Educação Infantil na Bahia.

Da forma como hoje se encontra, a creche está no limbo. E tudo que eu gostaria de entender é até quando e por quê? Minha angustia é fortemente vinculada à existência da Creche, porém, pergunto se todos possuem clareza sobre os rumos que tomarão cada instituto, cada unidade, cada projeto que a UFBA hoje abriga. Afinal, o destino da Creche também me parece estar no limbo, e isso já faz tempo.

Espero, sinceramente, que as questões que aqui levanto possam trazer algum tipo de reflexão para os nossos candidatos e para todos nós, sobre o tipo de universidade que se pretende projetar.

Muito respeitosamente me despeço e agradeço àqueles/as que partilharam comigo essas inquietações.

Karina, mãe do Ian.

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  1. AMIZADE
    Amizade é um sentimento, o carinho de ouvir a chamada.
    É saber as ocasiões de ficar silencioso.
    Amizade é adicionar alegrias, e compartilhar as tristezas.
    É poupar o espaço emudecer o segredo.
    É a confiança de dar mãos estendida.
    A conivência isso não se ilustra, somente a experiência.

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