O Software Público Brasileiro (SPB) é um repositório de softwares livres específicos para atender às necessidades da administração pública. Pode ser usado como um promotor da construção tecnológica coletiva, com o qual universidades, órgãos públicos, empresas e a sociedade civil contribuem, adaptam e evoluem tecnologias de forma colaborativa.
O SBP é orientado pelos princípios do Software Livre: liberdade para usar, estudar, modificar e compartilhar. O movimento do software livre surge em meados da década de 80, se popularizando especialmente com comunidades de programadores GNU/LINUX. Essas comunidades possibilitaram a formação de redes de programadores, desenvolvedores, educadores e curiosos que, por sua vez, criaram novas redes, alimentando um ecosistema de colaboração crucial para o desenvolvimento tecnológico mundial.
Muita gente não conhece essas histórias, mas elas fazem parte de uma luta silenciosa por soberania digital, transparência governamental e democratização do conhecimento, com a participação de hackers de diversas áreas do conhecimento. Aqui no Brasil também tem sido assim.
Há cerca de 15 anos, como educadora e hackerista, venho explorando os caminhos do ensino crítico, da pedagogia da autonomia e da cultura digital livre, experimentando recursos diversos, e principalmente incentivando a experimentação crítica das tecnologias que nos cercam. Moodle, OpenOffice, openmaps, wikimídia, rádios livres, redes livres… o que sempre me moveu foi compreender que o software livre é uma escolha ética e politica viável; a chance de ensinar estudantes e professores a não aceitarem a tecnologia como uma caixa preta, mas como um campo de possibilidades — éticas, políticas e também afetivas, portanto deveríamos ter direito de escolher o que e como usar.
Sem romantismos nas minhas palavras, penso nas pessoas que lutam diariamente contra o sucateamento das nossas empresas públicas de tecnologia e de seus trabalhadores. Celebro a coragem incessante, a teimosia e o folêgo daqueles que defendem a soberania digital.
Ser educadora hackerista nesse Brasil tão desigual significa remar contra a maré, defender o uso de tecnologias livres quando tudo me empurra para os códigos proprietários pode ser exaustivo e solitário. Tem hora que a gente cansa e, às vezes, precisa ceder. O que me salva é a confiança de que esse ceder é temporário. Uma prova disso: o software livre já ganhou a guerra técnica, basta observar a estruturação da internet nos dias de hoje, interconectada devido a protocolos abertos e distribuída em nuvens com sistemas operacionais livres.
A inovação popular nasce de muitas mãos e não uma única empresa. A inovação popular é a que traz melhor qualidade de vida para as pessoas. Minha esperança freireana se mantém viva e atuante ao encontrar e reencontrar companhias lindas pelo caminho: comunidades, coletivos, pessoas que acreditam, como eu, que código também é linguagem de transformação social.
Ver o SPB sobrevivendo me faz celebrar as pessoas que o mantém como uma política pública e uma utopia possível: a de que o conhecimento é um bem comum, e que tecnologia livre é um ato de cuidado com o presente e o futuro.
Você sabia que todo software potencialmente nasce “livre”?
Um software ou aplicativo é criado a partir de linguagens de programação, isso significa que, se uma pessoa for letrada em alguma dessas linguagens, poderia estudar os códigos de como aquele aplicativo foi feito e também a modificá-lo reescrevendo os códigos. Esse é o princípio do software livre que pode ser usado, copiado, modificado e compartilhado entre as pessoas. Um exemplo muito famoso é o software blender que é usado por grandes empresas da indústria cinematográfica e por pessoas comuns como eu.
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