A sociedade em que vivemos e o direito da mãe em estar com o filho (e vice-versa)

Das experiências que tive com comunidades indígenas de Minas Gerais, a relação que os adultos construiam com as crianças sempre me chamou atenção, especialmente porque grande parte do meu convivio se deu em momentos formativos com professores indígenas, realizados em salas de aula. Era muito comum haver crianças, grandes e pequenas, rodeando o espaço, fazendo parte dele. Os bebês, via de regra, com as mães, pendurados em seus peitos, agarrados no colo, mas com os olhinhos atentos para todos lados. As mães, agora professoras, saiam de suas comunidades para participar desses encontros, e lá não havia os pais, as avós, os outros filhos. Então, era de se esperar que as crianças fossem tão inseparáveis de suas mães como eram os materiais de estudo que a mãe-professora carregava.

Nas bolsas, não era incomum encontrar apostilas, roteiros de estudos e apetrechos de bebê. E nas salas de aula, a criança era percebida, era aceita, sem nenhum rebuliço, sem dispersão. A não ser, por parte dos formadores, dos professores que não eram índios. Tudo isso me faz inferir que a criança não desestabiliza o ambiente, mas a reação dos adultos à presença das crianças, sim.

Afinal, quem é fica olhando para os pequenos e falando em tatibitatis? Quem é que se espanta a cada balbucio, a cada sorriso, a cada olhar? Quem é que se incomoda com um choro como se fosse algo de outro mundo? Nós nos deslumbramos com as crianças, especialmente quando elas estão fora do seu contexto, ou melhor, quando estão no contexto do adulto. Muitas são as pessoas que não conseguem passar indiferentes pela presença de uma criança.

Penso que isso mostra que muitos de nós não somos indiferentes as esses seres pequenos e curiosos. Alguns ficam felizes ao conquistar o menor olhar, o menor sorriso. Por outro lado, há outros que se incomodam, que julgam, e que preferem não serem expostos à presença de crianças nos ambientes adultos sobre os quais tem domínio, e isso traz certas implicações para a vida prática de algumas mães que precisam participar desses espaços.

Contudo, não penso que a naturalidade com a qual os professores indios lidavam com a presença das crianças seja uma especie de indiferença, pelo contrário, penso que seja o reconhecimento do direito da criança de estar com a mãe e o reconhecimento do direito da mãe de estar ali.Atividade com a turma estágio em educação infantil

Por isso, acho que não tem nada a ver com indiferença.

Por outro lado, vamos trazer a conversa para nossa sociedade não india, brasileira, de poder sócio-aquisitivo mediano e que não conta com o apoio de babás: é errado uma mãe levar sua criança para os ambientes adultos dos quais ela faz parte e não pode ou não deseja se afastar?

Não estou aqui falando de ambientes que exponham as crianças a riscos, estou falando de ambientes educacionais. Estou falando da mãe estudante, que tem créditos a cumprir, trabalhos a entregar, textos a ler… estou falando da mãe-estudante que, cuida do filho, trabalha e ainda por cima, estuda. Podem ser barradas, constrangidas ou mesmo advertidas por levarem consigo seus livros, suas reponsabilidades e seus filhos?

Tenho uma opinião sobre isso, mas não quero me precipitar. Por isso, prefiro deixar para o próximo post…

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