Fui convidada a participar de uma roda de conversa no 2º Congresso Internacional e Multidisciplinar sobre Educação, organizado a pelo no qual estarei ao lado de pessoas célebres na área de educação e tecnologias, o Prof. Henrique Parra (UNIFESP) e Profa. Vani Kenski (USP) sobre o tema Desinformação e digitalização na Educação: de consumidores a cidadãos.
Quando me coloco à observar e refletir sobre a realidade que nos cerca, me vem à mente as palavras animadoras de muitos predecessores na área, tais como o Pierry Levy ao exaltar as qualidades da Inteligencia Coletiva; Seymor Papert, com a aprendizagem ativa usando máquinas. E relembro das críticas aos extremismos das pessoas técnoutópicas e das tecnoapocalipticas.
Sempre desconfiei do maravilhamento ingênuo denunciado por Álvaro Vieira Pinto na coleçao, o que é Tecnologia, como um tipo de embasbacamento frente as novidades. O maravilhamento do qual sinto falta ultimamente, é aquele que nos fazia experançar ao ver por exmeplo, pessoas reencontrando entes queridos e amizades afastados por meio de redes sociais ou ver uma protese impressa em impressora 3D ser usada para fazer os dedinhos de uma criança. Sinto falta de reafirmar uma das premissas dos antigos hackers: é possivel criar beleza com o computador.
Esse maravilhamento e esperança parecem ter sido soterrados por uma avalanche de alertas, crises e ruídos. Muitos desses alertas são necessários e pertinentes, trazidos por pessoas engajadas nas mudanças sociais. Quando se fala de educação e tecnologias, as notícias que recebemos destacam o colapso cognitivo, os algoritmos da mentira, os jovens “viciados em tela”. O entusiasmo está cedendo espaço ao cansaço e quando falamos de emancipação, autonomia e crítica no mundo digital parece que evocamos mitos de um passado recente.
É nesse terreno ambíguo que meus estudos e vivências com a cultura hacker me oferecem lentes preciosas. Ao superar a visão estereotipada do hacker como invasor, encontro o hackerismo como uma prática criativa e potencialmente transformadora. A pedagogia hackerista traz uma ética da curiosidade que subverte sistemas opacos, tentando compreendê-los — e, quando possível, reprogramá-los com outras lógicas, mais abertas, mais coletivas, menos injustas.
Esse olhar é especialmente importante quando falamos de desinformação. Porque o problema não é apenas o conteúdo falso — é o ambiente em que a desinformação nasce e se espalha. Vivemos uma tríplice distorção,
A Desinformação que nasce da falta de acesso à informação: milhões seguem excluídos das redes digitais, sem infraestrutura mínima, sem fluência digital. A desinformação aqui se dá por tanto por ausência de condições estruturais quando pelo cerceamento de condições adequadas de acesso.
Desinformação emergente do excesso de acesso à informação: no outro extremo, estamos todos submersos em fluxos constantes de dados, notificações, vídeos, manchetes. O problema aqui não é ausência, mas saturação. Quando tudo fala ao mesmo tempo, o discernimento se dissolve. A dúvida vira zumbido. A informação vira ruído. E tendemos a nos evadir para espaços de rolagem fácil, leituras curtas, vídeos rápidos que sequestram nossa subjetividade.
Esses dois primeiros agravados pela desinformação por ausência de formação. É um entremeio, no qual há uma ausência estrutural ainda mais gravíssima: a de espaços de uma formação crítica que ajude a navegar com segurança e discernimento pela sociedade conetada, dentro e fora do mundo digital. Nos tornamos pessoas consumidoras de plataformas, conteúdos, sentimentos que nos imobilizam na frente da tela ou nos expõem a riscos que nem sabemos que existem.
Diante disso, a pedagogia hackerista nos oferece alguns aprendizados fundamentais, os quais quero compartilhar – o primeiro é aprender a ver o código do mundo que significa entender que toda plataforma é um produto e todo produto tem uma lógica intencional portanto, não pode ser naturalizada e precisa ser lida e questionada. Além disso, formar redes é tão importante quanto formar indivíduos, porque o hackerismo não é genialidade solitária, é sobre comunidades distribuídas de compartilhamento e apoio. Isso nos ensina que enfrentar a desinformação não é uma missão individual — é uma tarefa coletiva.
Ao hackear a lógica passiva, homogenizadora e desviante da digitalização acritica que nos toma de assalto, a Educação pode voltar a ser terreno de invenção e resistência — não um campo de consumo automatizado, mas um espaço de formação para a cidadania crítica no século XXI. Alguns podem dizer que é uma visão romântica e tudo. Vejo mais como uma visão de esperança, afinal, estamos precisando disso.
“Educar é ensinar a ver o código do mundo: decodificar, compreender, recriar.” KaMenezes